Novo salário mínimo de R$ 1.621 pode injetar até R$ 81,7 bilhões na economia em 2026
O valor do salário mínimo anunciado para 2026, de R$ 1.621,00, terá efeito positivo na economia, segundo o Dieese
Com o anúncio do novo valor do salário mínimo para 2026, fixado em R$ 1.621,00, cresce a expectativa sobre o impacto real na economia brasileira e, principalmente, na renda dos trabalhadores, que passarão a receber o reajuste a partir de 1º de janeiro. Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indica que o reajuste de 6,79% em relação ao salário mínimo atual, de R$ 1.518,00, poderá injetar até R$ 81,7 bilhões na economia nacional.
O aumento do mínimo foi calculado com base na variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) dos 12 meses encerrados em novembro, somada à variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores. Para o reajuste de 2026, foi considerada a variação do INPC entre dezembro de 2024 e novembro de 2025, de 4,18%.
“Segundo estimativas do Dieese, cerca de 61,9 milhões de pessoas têm rendimentos referenciados no salário mínimo. Considerando todo o ano de 2026, esse incremento deverá injetar R$ 81,7 bilhões na economia. Grande parte desses trabalhadores inclui empregados domésticos, profissionais de algumas categorias específicas e aposentados e pensionistas do INSS, que, segundo nossa estimativa, somam quase 30 milhões de beneficiários”, explicou o economista e supervisor técnico do Dieese em Minas Gerais, Fernando Ferreira Duarte.
Relação entre salário mínimo e cesta básica
A relação entre o salário mínimo e o custo da cesta básica de alimentos evidencia os limites do poder de compra dos trabalhadores. Em 2025, o salário mínimo foi suficiente para adquirir, em média, 2,13 cestas básicas em Belo Horizonte, tomada como referência. Em janeiro de 2026, essa relação melhora, alcançando 2,27 cestas básicas por salário mínimo, o maior patamar desde 2019.
A cesta básica é composta por 13 itens alimentícios e serve de base para o cálculo do valor do salário mínimo necessário à sobrevivência de um trabalhador e de sua família. A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Dieese em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), aponta que o custo da cesta básica em Belo Horizonte foi de R$ 712 em novembro de 2025.
Qual será o impacto nas contas da Previdência
De acordo com o Boletim Estatístico da Previdência, de setembro de 2025, a massa de benefícios equivalentes a até um salário mínimo representa 46,0% do total pago e corresponde a 70,8% dos beneficiários.
Cada acréscimo de R$ 1,00 no salário mínimo gera um impacto estimado de R$ 380,5 milhões por ano sobre a folha de benefícios da Previdência Social. Dessa forma, o reajuste para R$ 1.621,00 – um aumento nominal de R$ 103,00 – implicará um custo adicional de aproximadamente R$ 39,1 bilhões anuais.
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Impacto para servidores públicos
O estudo do Dieese também aponta que servidores públicos com menores vencimentos, concentrados principalmente em municípios de pequeno porte, terão ganho real na remuneração. Já entre servidores estaduais e federais, o impacto tende a ser menor.
“No caso do funcionalismo público, servidores da União e dos estados não concentram grande número de trabalhadores com salários próximos ao mínimo. Nos municípios, porém, há uma concentração expressiva de servidores que recebem até um salário mínimo”, explicou Duarte.
Segundo o economista, cerca de 10,72% dos servidores públicos municipais em todo o País deverão ter variação positiva na remuneração em razão do reajuste. “Em capitais como Belo Horizonte, esse percentual é menor, mas no interior do Estado a repercussão é bastante significativa”, acrescentou.
Base de cálculo do reajuste
O crescimento real do PIB em 2024 foi de 3,4%. No entanto, conforme estabelece a legislação que institui o novo regime fiscal, o crescimento real das despesas primárias da União está limitado a 2,5% ao ano.
Assim, o reajuste do salário mínimo resultou da correção inflacionária de 4,18%, somada ao aumento real de 2,5%, totalizando 6,79%. Com isso, o salário mínimo teve variação nominal de R$ 103,00, alcançando R$ 1.621,00.
Política de valorização do salário mínimo
Para Fernando Ferreira Duarte, pensar a política de valorização do salário mínimo no longo prazo é fundamental, pois garante previsibilidade às políticas públicas, às administrações municipais, à iniciativa privada e à própria economia.
“Essa política tem enorme relevância econômica. De acordo com estimativas do Dieese, o reajuste do salário mínimo em 2026 deverá injetar cerca de R$ 81,7 bilhões adicionais na economia”, afirmou.
Embora o ganho real para quem recebe o mínimo em 2026 seja de 2,5% em relação a 2025, a trajetória histórica mostra avanços significativos. Em 2002, o salário mínimo era de R$ 200,00. A partir de janeiro de 2026, passará a R$ 1.621,00, o que representa uma elevação nominal de 710,5% em 24 anos.
No mesmo período, o INPC acumulou alta de 306,7%, o que resulta em um ganho real de aproximadamente 99% no poder de compra do salário mínimo. “Trata-se de uma política previsível, baseada nas condições reais da economia, sem gerar grandes impactos inflacionários e permitindo planejamento tanto para o setor público quanto para a iniciativa privada”, concluiu.

